depressão
Foto de Maureen Drennan |
Eu acredito que seja natural termos momentos de felicidade e alguns momentos de tristeza: o problema surge quando os períodos de tristeza são mais frequentes do que a gente espera ou possa suportar. E como todo problema, tentamos buscar soluções e nesse caminho tortuoso acaba-se por pensar que talvez atentar contra a própria vida possa ser uma solução possível. Meu primeiro contato sobre o tema foi durante a infância e foi concomitante com a formação religiosa que eu comecei a ter nessa fase, em que me disseram que o suicídio é condenável e que as pessoas que o cometem não vão pro céu (mais um sentimento de culpa pra imensa lista da Igreja Cristã). Na adolescência, o suicídio era pincelado em algumas disciplinas que discutiam saúde pública ou filosofia, mas que em geral nos deixavam carentes de uma discussão mais profunda de um tema tabu para a época em que mais precisávamos disso: temos as diversas mudanças físicas causadas pelos hormônios, temos a consolidação da nossa identidade sexual e não temos um córtex pré-frontal bem desenvolvido (e eu me pergunto se, mesmo depois de desenvolvido, a gente saiba bem como utilizá-lo). E foi nesse contexto que eu tive a primeira ideia de cometer suicídio, devido o desgosto que eu sentia por mim mesma na época.
Depois de passada euforia adolescente, houve um período que, apesar das dificuldades e ansiedades, eu me sentia feliz. Acho que de alguma forma ainda vivia em mim uma ingenuidade de que, apesar das adversidades, eu ainda teria um final feliz. E foi desta mesma forma que eu fui matando essa pequena esperança, colocando sempre expectativas que eu não poderia alcançar e, caso alcançadas, percebia que de alguma forma eu poderia tentar algo melhor - ou que acharia que é melhor. Na universidade os períodos deprimidos deram licença para a ansiedade, à exaustão física e emocional e, muitas das vezes, pela solidão. Quando passei pela perda da minha avó, eu me senti muito sozinho e o espaço que ela ocupava na minha vida nunca fora preenchido. De certa forma, parecem que todos que se aproximam de mim me deixam buraquinhos. É como se eles nunca me deixassem algo, mas sempre me levassem um pouquinho. E como forma de proteção eu me anestesiei.
A anestesia foi muito importante do ponto de vista universitário, porque me poupou muito sofrimento. Em contrapartida, eu perdi grande parte da felicidade que poderia ter vivido dentro da universidade. Em algum momento, que não sei explicar porque, esta anestesia acabou e precisei lidar com um amontado de emoções, o que me traz até o presente. Nos últimos meses, eu não tenho tido persistência na felicidade. Meu estado emocional é como um céu durante a noite, em que as estrelas são os pequeno momentos de felicidade, mas é a tristeza interpretada pela escuridão que serve de pano de fundo pra tudo isso. As vezes eu minto pra mim mesmo, talvez uma tentativa equivocada de tentar a voltar ao meu eu anestesiado, que nada sente, só segue. Mas a verdade é que eu queria colocar e expressar esses sentimentos de alguma forma. E muitas vezes eu não me sinto capaz de lidar com elas sozinho, apesar de não ter audácia de pedir ajuda. Ainda nas analogias cosmológicas, eu sinto que nossas relações são como as órbitas dos planetas: estamos sincronizados, mas nunca nos tocamos e o toque seria algo mais profundo. Um dia eu vi um vídeo que, pra ajudarmos realmente quem precisa, precisaríamos descer até o fundo do poço em que a pessoa se encontra, em outras palavras, compartilhar da mesma dor. E as vezes eu sinto que as pessoas não entendem, porque essa é minha dor e de mais ninguém.
Eu entendo que a trajetória que eu segui até agora é especial, porque eu tive que enfrentar diversas dificuldades pra conquistar alguns objetivos. Mas eu já me sinto sem forças. E mas do que isso, porque em outros momentos eu já me senti sem forças, eu me sinto sem propósito. Eu gostei bastante do meu curso, me dediquei ao máximo, mas quando eu tento pensar na minha figura como economista, parece que meu cérebro faz o esforço que uma criança tem de tentar encaixar um quadrado em uma forma triangular - e falhar miseravelmente nesta tarefa. Mas também não sei se existe alguma outra coisa que eu gostaria de fazer. Parece que a cada vez que eu durmo, quando acordo sou uma outra pessoa. Em alguns dias tenho momentos de ânimo, em outros não encontro forças pras atividades diárias. Em alguns dias quero morrer. E na maioria dos dias eu sinto culpa, porque eu poderia ter feito melhor e poderia estar fazendo melhor agora, mas parece que desisti.
A fantasia serve como válvula de escape, mas parece que agora eu me puno quando começo a sonhar acordado, o que sempre fiz. A maioria das minhas ilusões são fantasiosas a ponto de eu saber que nunca se concretizariam, mas algumas delas foram relevantes para que eu pudesse chegar até aqui. Agora, parecem ser inúteis. E alguns momentos eu me sentia possuidor de algum poder místico, conectado ao universo e que se eu pedisse e lutasse muito, eu sempre receberia algum resultado bom. Hoje eu acho essa ideia estúpida. Eu não sei se esse processo faz parte de me tornar adulto. Não sei que ponto as pessoas deixam de sonhar, mas quando esse momento parece chegar pra mim, menos preparado eu pareço estar pra viver ele. E seja como for, falar não me ajuda. Apesar da terapia, eu não sinto que eu tenha avançado pra alguma direção, mesmo que essa direção tivesse sido para trás. Eu sinto que me sentiria melhor se tivesse ido pra algum lugar. Eu me sentiria melhor se tivesse pra onde ir.
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