fórmulas



O processo criativo é uma coisa muito esquisita. Antes de escrever eu fico olhando por alguns momentos contemplando o vazio, o branco do papel, quem em alguns momentos eu serei obrigado a escrever. A nossa vida moderna em geral tem cobrado bastante da gente, temos prazos, deadlines e temos que encaixar todas essas datas no nosso próprio tempo - e muitas vezes fazer o dia ter mais de 24 horas. De certa forma, essa cobrança em praticamente todas as esferas para que sejamos produtivos acaba impactando de forma negativa alguns aspectos que são necessários pro nosso bem estar enquanto ser humano. Eu entendo que tenham pessoas que se sintam bem nesse contexto, mas em geral a sensação de que tenho é de ausência. Ausência no sentido de que a vida tem passado tão depressa e as pessoas que estão ao nosso lado, na verdade não estão: percebe-se que na maioria das vezes estamos preocupados com as responsabilidades do futuro e as pendências do passado do que qualquer outra coisa. Não raro, eu já me deparei com dias em que eu não conseguia me lembrar com tanta clareza dos detalhes do que acontecera ontem. A rotina toma espaço e as pequenas oportunidades de fuga são preenchidas por posterior sentimento de culpa. Eu sei que a gente não deveria se sentir assim e eu sei que se eu dissesse isso, pelo menos algum fulano que conhece algum ciclano terapeuta também diria que eu não deveria me sentir assim. Mas é quase impossível fugir do looping de sensações que só quem passa dos 20 anos consegue entender.

Tem dias que eu fico desejando ver um coelho branco com um pequeno relógio de bolso para que eu possa segui-lo. Mesmo o mundo louco de Alice parece ter mais sanidade do que a gente anda vendo por aqui. A infância agora já parece tão distante e os momentos que eu me pego fantasiando geralmente são seguidos de momentos em que eu passo me cobrando. Me cobrando porque eu não estou certa de que quero fazer mestrado. Me cobrando porque, apesar de gostar de aprender, em certos momentos eu acho questionável o meu gosto por ciência econômica - e nem preciso dizer sobre a minha confiança sobre a mesma. E como dizem, a vida cobra. Isso se a vida vier em forma de pessoas perguntando "e aí, quando você vai formar? comprar sua primeira casa? casar? ter o emprego dos sonhos?". E eu só quero dizer "calma aí, eu só sou um adulto que ainda não sabe bem se saiu da adolescência". Porque as vezes eu questiono a minha própria maturidade.

As vezes a gente se esquece disso, mas na verdade a vida não tem um manual do que têm de ser feito. A nossa ideia de vida é uma construção social que não necessariamente reflete aquilo que realmente desejamos. A fórmula nascer-crescer-formar-trabalhar-casar não é uma receita tão simples quanto uma de bolo - e os custos dos erros geralmente são mais danosos que os de colocar farinha demais na massa. E pra ser sincera, a linha pela qual a gente passa pelas etapas da nossa vida não são tão tênues quanto querem que acreditemos. Geralmente a gente percebe que está passando por um período de mudanças quando já está no olho do furacão e partir daí já não há muito o que fazer além de contabilizar os estragos, mas também algumas coisas boas que os ventos podem nos trazer. Porque afinal de contas, ainda há algo de belo na vida, apesar das (auto)cobranças. Mas em geral estaremos ocupados demais pra conseguir ver.

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