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A minha escrita existe por ela mesma. Parnasiana. Tem vida própria, sentimento, anseio e arrependimento. Não tem hora certa pra chegar, nem cronograma. Surge naqueles momentos que eu não quero escrever, mas se escreve solta em mim, passeia pelo meu corpo, encontra refúgio em minh'alma.
Em alguns momentos minha escrita é festiva, transforma as consoantes em confete, se joga por aí. Noutros ela é agressiva, sádica, aquela velha faca de dois gumes que se fere pra ser ferido.
Tem dias que me tira o sono, vem devagar e vai juntando palavra por palavra, me faz querer escrever e guardar, como aqueles origamis que a gente faz na escola e acha que duram pra sempre. Mas também atua como calmante, brisa leve, me ajuda a descansar e me protege do stress diário.
É temperamental. Quando eu quero, não vem. Tem que pedir devagarinho, ser paciente, insistir mas não muito, assim como o amor: cede aos poucos, mas nem tanto. Nunca por inteiro.
As vezes inspira, mas as vezes busca inspiração na escrita de outrem; gosta de Lispector como eu, mas nem tanto, porque é competitiva.
Tem dias que eu penso que ela é o espelho da minha própria psiquê humana, é aqui adotamos psiquê mesmo sem sabermos ao certo o que significa, mas escrever é como andar de bicicleta: depois que se aprende, a gente não liga mais se vai perder a coordenação geral dos pés e se preocupa apenas com a paisagem. Seguir olhando pro lado, acho que a vida tem um pouco disso. Apreciar a paisagem com cara de paisagem.
Eu gosto de escrever. Me liberta. Mas também não muito, eu também queria viajar, mas é que assim, fica mais fácil viajar escrevendo. Eu invento o meu próprio mundo, mas eu também fico me perguntando se esse é mesmo meu destino. Inventar. Inventar amores inventados pra me distrair. Karina um dia disso isso, quero que você me queira, antes que eu desinteresse, antes que eu perca a ordem e grite que eu quero te ver. Mas eu acho que eu não quero mesmo te ver.
Hoje eu escrevi sobre escrever. Eu sei que é patético, mas essa é a melhor noite da minha vida.

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